Dia do Maçom

Comemoramos o 20 de agosto como o dia do Maçom brasileiro, nos reportando a importante Sessão do Grande Oriente do Brasil em 1822, quando na Ordem do Dia estava a determinação da Instituição em proclamar a Independência do país em decisão aparentemente monocrática, a qual levou o Príncipe Regente atender aos anseios do nosso povo.

 

Como seria de praxe, esta Oratória faria uma referência elogiosa a todos nós, sem cabotinismo, membros da gloriosa Maçonaria. No entanto, o momento faz com que este Ministério Público use da palavra em prol do bem da nossa Instituição; pois nós estamos precisando mais de um chamamento a responsabilidade do que de louros indevidos. A Maçonaria sim, que merece tal manifestação eloqüente, por suportar com sapiência e equilíbrio as mazelas mais inconseqüentes oriundas do seu próprio meio.

É assustador o conteúdo das páginas oficiais da Justiça Maçônica, mormente as do Grande Oriente, a qual temos acesso. Onde podemos fazer com devida facilidade uma analogia com a Justiça profana.

Não cito as salutares questões de constitucionalidade, mas sim de desvios de conduta e embates dos poderes constituídos, onde a posição dos Altos Corpos da Ordem é renegada a patamares baixos e de vulgaridade que não cabe a homens de bem, de razoável inteligência e que se propõem a militar numa Irmandade séria e que não obriga a ninguém nela estar. Tudo isso tem como gênesis o pensamento de certos Maçons que eles são maiores e mais importantes que a Ordem. Ela é o que nos faz aqui estar; a aprender e lutar por seus ideais, mesmo no cenário de uma sociedade adoecida e mórbida como a nossa.

Os Maçons brasileiros precisam aprender a refletir e lembrar da frase que um Presidente norte-americano disse em sua posse: “Antes de perguntar o que a América pode fazer por mim; pergunte o que eu posso fazer pela América”. Digo isso porque o cenário da Maçonaria em nosso país é dantesco, não por culpa dos valores intrínsecos da Ordem, mas sim pelo comportamento egoísta, egocêntrico e obtuso dos Membros da Instituição.

Estamos diante de uma estampa onde num país de 192 milhões de habitantes, temos em nossos Quadros 160 mil Maçons Ativos, sendo 70 mil no GOB e outros 90 mil nas demais Potências.

Para se ter uma idéia da insignificância desses números, Cuba um jurássico país comunista com uma população de 12 milhões de habitantes, tem 30 mil Maçons ativos, freqüentando diversas Lojas, todas elas sob a jurisdição de uma só potência, a Grande Loja de Cuba, que detém uma edificação de 10 andares no Centro de Havana, onde funcionam 48 Lojas, bibliotecas e diversas ações sociais; além da administração de um fundo de seguridade maçônica e de apoio a cubanos no país e exilados.

A falta de cultura institucional do brasileiro faz com que tenhamos uma inúmera quantidade de Potências, que transforma o termo até em certa ironia. Tem a Maçonaria brasileira um patrimônio invejável em termos mundiais, mas fatiada do jeito que se encontra, com a criação de uma Obediência por ano; não conseguimos comprovar e muito menos solidificar garantias financeiras para proporcionarmos uma seguridade digna e pelos menos um plano de saúde compatível para a família maçônica.

Ficamos a mercê de mútuas e auxílios funerais risíveis, que causam espécie na sociedade brasileira. Tudo isso por que preferimos bancar a vaidade de alguns em detrimento ao verdadeiro interesse da Maçonaria no que tange ao bem estar de seus filiados.

Ao todo temos mais de cinco mil Lojas Simbólicas, um sem número de Filosóficas, Capitulares, Conselhos, Supremos Conselhos e Oficinas Chefe de Rito, cujo patrimônio junto faz da Maçonaria brasileira auto-sustentável. Mas preferimos usar nossos Palácios para discutir cor de avental, mudança de rituais e afins; no lugar de uma discussão dos rumos estratégicos; do uso da força da Instituição e da sua real contribuição no cotidiano político-social da nação.

É comum vermos maçons com um ano apenas de instituição defendendo a fundo as cisões que deram origem a tantas Potências, se terem a menor noção de suas causas e do mal que elas representaram para Ordem. No entanto, não conseguem interpretar o Ritual do seu Grau. Isso se chama falta de foco.
Escuto vez por outra que a Ordem deve-se se fazer mais presente na política. Vale lembrar que em tempos idos, a política era prima-irmã da ideologia, dos valores mais nobres, da entrega de cidadãos a ideais supremos. “““ “Já até citei aqui deste Altar um pensamento de Fernando Pessoa que dizia:” Navegar é preciso, viver não é preciso”; onde o poeta ressaltava a prevalência dos ideais sobre a própria vida.

Hoje a política tem como pilares o fisiologismo, o jogo de interesses e o corporativismo. Falam que deveríamos ter as chamadas “bancadas”. No entanto elas não são formadas com viés ideológico. Elas existem por interesses de corporações financeiras e infelizmente religiosas. São movidas por interesses escusos e financiadas por recursos que passam ao largo do controle do fisco, desde as campanhas até o financiamento da máquina corrupta e leniente do estado.

A Maçonaria além de não coadunar com tais práticas; ela não detém tais recursos. Todos aqui sabem das dificuldades que cada Loja Maçônica enfrenta em sua manutenção e na tentativa de patrocinar suas obras assistenciais.

A Maçonaria não é uma religião e muito menos uma corporação financista. Por isso é uma atroz utopia ter a referida “bancada” nos padrões atuais, mesmo assim temos 55 deputados federais e 8 senadores maçons; e outros tantos que mesmo não pertencendo as Colunas, estão sempre à disposição da Ordem, sobretudo pelo passado que honra qualquer instituição.

É necessário que os Maçons entendam que eles precisam ser autoditadas; só se conhece a Maçonaria estudando-a; e não será apenas com o quarto do tempo de estudos ou instruções em Loja que o farão conhecer uma Ordem Filosófica. Nem mesmo em anos contínuos de uma Academia o faria um livre pensador; se fazem necessários a busca cognitiva e o empirismo para que se conheça um pouco do muito que esta Ordem detém. E não é a escala de graus que oferecerá seus conhecimentos e sim o estudo livre e persistente de cada um de nós.

Outro aspecto que deve ser analisado é o entendimento sobre a conduta de uma Irmandade. A fidelidade e a lealdade entre os maçons deve ser algo real, sobretudo quando as causas são justas e os membros dignos de tal proteção. Não devemos ser asilos de indolentes ou aproveitadores. Mas é muito triste vermos maçons covardes, que abandonam seus Irmãos em covardias explícitas em nome do politicamente correto ou pela sua própria falta de honradez. No entanto cortam suas gargantas de acordo com suas conveniências, e até mesmo de seus interesses mesquinhos, onde tem até mesmo profanos se beneficiando em detrimento de dignos maçons.

Reconheço o esforço em particular do Grande Oriente do Brasil em melhorar os institutos de apoio no que tange as novas admissões. Mas isso é trabalho de todos nós; e não devemos nos sentir melindrado quando um proposto nosso é emperrado nos crivos da Ordem. Isso para um iniciado é motivo de orgulho dos processos de auto-proteção; e não ultraje a egos como via de regra acontece.

Antes das criticas, as instituições carecem de trabalho, entrega e acima de tudo respeito a seus regulamentos e constituições. A Maçonaria em particular tem como objetivo primaz o aprimoramento do homem; sua melhor inserção no meio social para uma participação mais efetiva nos rumos da humanidade.

Não é a Maçonaria um palco cujo arrebol ilumina egos e vaidades pessoais. Ela é um todo que se faz forte na medida em que essa força seja gerada pelo comprometimento silencioso, desinteressado e desapegado de falsos poderes.

É obrigação do Maçom manter sua Loja forte, progressista e sempre livre das quimeras humanas. Uma Oficina deve crescer dentro das suas possibilidades, mas nunca estacionar pela letargia dos que se apegam a tudo que a filosofia maçônica rejeita.

Mais do que nunca a Maçonaria precisa de crescimento sustentável, responsável e respaldado em critérios pragmáticos. E nunca em vontades isoladas.

Sempre imaginei que veria a Maçonaria brasileira unida, unificada, se fortalecendo e fazendo valer a sua história. No entanto, meu ceticismo é naturalmente mais forte na medida em que vejo que poucos de fato aprendem que a Maçonaria é o túmulo do vaidoso; e assim continuaremos a erguer estranhas catedrais, no lugar de entrelaçar o esquadro e o compasso com seu real significado.

Para Nitzche “quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos de quem não sabe voar” e talvez seja dentro desse critério que a Maçonaria incita os seus Iniciados a se identificarem como livre pensador e em verdadeiros adeptos de uma Ordem que enaltece as virtudes e sepulta os que traem sua própria consciência.

Para os Maçons da “Lealdade e Luz” registro com satisfação a maneira pela qual tratam desta Loja. Que continuemos a compreender que o progresso e a solidificação da Oficina começam com o esforço, a seriedade e ao respeito que esta Loja tem sido alvo em seus quase 26 anos de fundação.

Todos nós passaremos e a Oficina aqui continuará com sua missão e o empenho de todas as Administrações que se seguem darão sempre um exemplo para que a Maçonaria seja alvo de maior desprendimento e amor pelos seus filiados.

Que a compreensão de que não existe lugar de destaque ou de regalia dentro de uma Loja Maçônica, toda ela é motivo de orgulho para quem foi de fato Iniciado na Arte Real.

Se sou obrigado a lançar uma moção de repúdio aos maçons brasileiros em seu dia, exatamente por respeito a que essa condição merece. Faço com regozijo um afago elogioso a Maçonaria pela sua capacidade de constante recuperação e de resignação diante de açoites internos e externos.

Elevo seu nome por tudo que representas para o mundo desde a sua constituição. Faço por não revidar as atrocidades com a violência dos beutros; mas sim com a inteligência dos eruditos.

Respeito suas colunas com a humildade de que não tem a devida condição de conhecê-la no seu todo. E admiro sua tolerância em sempre perdoar o perjúrio dos insensatos e a tolerar as farpas da ingratidão.

Sublime é a Instituição que adorna a beleza da liberdade; essa mesma liberdade que se transforma em letal veneno nas mãos dos pérfidos. Que ensina que a igualdade verdadeira é a de oportunidades e não a cultuada pelos aproveitadores. E que a fraternidade divina é a que ampara ensinando os valores práticos transmitidos por Cristo na terra.

Essa é a Maçonaria que nos acolhe sem nada exigir; apenas que sejamos coerentes com as nossas vontades e que não nos esqueçamos das promessas aqui proferidas, salientando que uma promessa não um artefato jurídico, mas sim a assinatura da alma avalizando o nosso caráter. 

Quem sabe, que ao invés de brindarmos o 20 de agosto com certos exageros; fazermos uma reflexão grave e profunda e concluirmos que um esquadro sobre um compasso diante de um novo Altar, seja mais importante do que os nossos velhos conceitos de honradez e seriedade, que sempre redundam nas conhecidas mazelas humanas.

Altair da Silva Carvalho – MI.´. Orador –
Loja Maçônica”Lealdade e Luz” – 2294 – Sessão de 16/08/2010 E.´.V.´.

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